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Encravada na reserva, Pacaraima corre risco de sumir do mapa

Metade dos 10,4 mil habitantes vive na zona urbana e não tem registros de propriedades

Guilherme Mazui

A 200 quilômetros de Boa Vista, na fronteira com a Venezuela, uma cidade corre o risco de desaparecer. Pacaraima concentra o atual foco de tensão na interminável disputa entre índios e não-índios em Roraima: a expansão das terras demarcadas.

Emancipado da Capital em 1995, o município foi instalado dentro da terra indígena São Marcos, colada à Raposa Serra do Sol — juntas, as áreas somam 2,4 milhões de hectares. Pela localização, os 10,4 mil habitantes da cidade, a metade na zona urbana, não dispõem do título das propriedades. E vivem com o receio de perder o lar. Na Justiça, entidades pedem a expulsão dos não-índios e o fim de Pacaraima.

— A cidade tem de ser excluída do mapa de São Marcos — defende o índio Mário Nicácio.

Coordenador-geral do CIR, Nicácio garante haver índios suficientes para povoar o local. Já as elites políticas tentam frear o processo. Deputados como o gaúcho Paulo Quartiero negociam com o governador José de Anchieta (PSDB).

— A União precisa tirar a área urbana de Pacaraima da demarcação. São 5 mil pessoas que teriam de sair. Roraima já deu sua contribuição para a questão indígena — alega Anchieta.

A mobilização também se explica pela integração com Santa Elena do Uairén, na Venezuela. Hoje, escolas brasileiras recebem alunos do país vizinho, que oferece seus hospitais. O temor pelo fechamento da fronteira e da estrada Boa Vista-Pacaraima (BR-174) é constante.

Enquanto aguarda o futuro, a cidade definha. A morte do Vale do Arroz reduziu os empregos. O mestiço José Porfiro, 29 anos, passa as tardes no bar à espera de serviço. A ausência de trabalho e o câmbio desvalorizado na Venezuela esvaziaram o comércio, que sequer tem posto de combustíveis. O único fica no outro lado da fronteira. Um litro de gasolina sai na média por R$ 0,38. Encher o tanque e revender em Boa Vista é o negócio lucrativo da região.

São estes revendedores e os funcionários públicos que asseguram o movimento na fruteira do cearense Pedro Batista, o Didi. Aos 51 anos, chegou há 10 anos na cidade atraído pelo garimpo e a roça. Cansado da sina nômade, evita pensar no fim do município, mas já se mostra resignado:

— Fazer o quê? Vai ser pegar as trouxas e seguir adiante outra vez.

De Diário Gaúcho, 20/04/2013.

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