Trecho da entrevista com a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR), Luiza Bairros, no programa “Bom dia, Ministro”, no dia 09/02/2012. No programa, a ministra respondeu perguntas do jornalista Patrick Motta, da Rádio Amazonas FM, de Manaus. No trecho, a ministra afirma que caboclos e ribeirinhos, uma das populações com menor renda média no país, só serão beneficiados pelas políticas da secretaria que administra se eles se declararem negros. Transcrição da entrevista abaixo:
REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus – AM): Agora sim. Bom dia, Kátia Sartório. Bom dia, senhoras e senhores ouvintes. E, também, bom dia, Ministra.
MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia.
REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus – AM): Ministra, se compararmos o passado com o presente em nosso país, percebemos que a sociedade evoluiu, de certa forma, sobre esse tema que é o racismo. Piadas não são tão difundidas como antes, novelas já utilizam o negro em papéis diferentes, não só como escravo ou empregada, e até as propagandas da mídia usam mais crianças negras também, apenas para citar alguns exemplos. Pergunto, Ministra: quando é que, na avaliação da senhora, nossa sociedade deixará de ser amparada por estatutos, cotas, para aprender a respeitar negros, idosos, deficientes, entre outros, Ministra?
MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, esse processo, Patrick, do ponto de vista histórico, ele é um processo sempre muito longo. Porque quando nós falamos da questão das discriminações, nós estamos falando fundamentalmente na possibilidade de mudança de mentalidade. E isso é que se coloca dentro de um esforço que a sociedade tenha que fazer para mudar, inclusive, as suas formas de repassar conhecimento, de validar determinados conhecimentos. Por isso que tem sido tão importante, na pauta da Seppir, ao longo do tempo, essa questão da implementação do ensino, da história e da cultura africana e afrobrasileira em todas as escolas do país, como forma de, pela via da educação, nós podermos garantir a existência de determinados conteúdos que eliminem esse tipo de pensamento, de que os negros vêm de culturas que são culturas menores, são culturas inferiores, ou de que os negros não tenham dado nenhum tipo de contribuição para a construção do país, ou uma construção apenas muito superficial. Então, eu acho que na medida em que nós consigamos inserir, no sistema educacional, esses conteúdos que dêem conta da questão da igualdade, da questão de que todos nós viemos de culturas, de civilizações que são importantes no mundo, eu acho que essas coisas vão aos poucos se alterando. Enquanto isso não acontece, obviamente, eu acho que nós temos, efetivamente, que utilizar a força da lei para que determinadas coisas sejam feitas, garantindo o direito da parcela negra da população aos benefícios do desenvolvimento.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Patrick Motta, da Rádio Amazonas FM, você tem outra pergunta?
REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus – AM): Temos sim, Kátia Sartório. Ministra, sobre o Sinapir, que é o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que funcionará como ferramenta de organização e articulação para estabelecer políticas e serviços destinados à superação das desigualdades étnicas aqui, no Brasil, a gente pergunta: vai contemplar também os nossos caboclos e ribeirinhos aqui da Amazônia, Ministra?
MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, o foco do trabalho da Seppir, embora ela tenha que contemplar outros grupos, o foco é a população negra. E, no Brasil, como você sabe, é negra a pessoa que assim se declara. Então, os ribeirinhos e os caboclos, se se considerarem e se declararem como negros, poderão, obviamente, ser beneficiados pelas políticas que a Seppir articula dentro do governo. Agora, é importante, a propósito da sua pergunta, explicar o seguinte: esse Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que nós chamamos de Sinapir, é uma iniciativa da maior importância para nós porque, pela primeira vez, nós conseguiremos, em relação à igualdade racial, montar um sistema dentro do qual nós vamos definir exatamente quais são as competências do governo federal, dos governos estaduais e dos governos municipais na execução dessas políticas de igualdade racial. Então, o sistema é um sistema de política pública, assim como outros que nós já temos no país, a exemplo do Sistema Único de Saúde, do Sistema Único de Assistência Social, que foram sistemas dentro dessas áreas, responsáveis por um avanço muito grande, dentro do governo federal, da forma como as políticas são feitas, nos critérios que são utilizados para o repasse de recurso nos governos estaduais e municipais. Então, nós fazemos uma aposta muito grande no Sinapir, nesse sistema, como forma de tornar a igualdade racial como um princípio importante de qualquer política pública no país, porque, afinal de contas, se trata de responder, não é, às demandas e aos direitos mesmo de mais de metade da população brasileira.
De EBC Serviços, 09/02/2012, corrigido.
Mas gente, como é que se faz pra entender como funciona essa história de cor e etnia.
Nos EUA, quando um Negro(a) tem um filho com Caucasiano(a), Latino(a), ou Indígena, o filho pode nascer com a cor clara, parda ou preta. Mas ele é fatalmente tratado como NEGRO(BLACK).
No Brasil, um cara como eu, filho de mãe negra e pai branco, deveria ser chamado de Mulato? ou de pardo?
O lance é que eu sou mais preto que minha mãe. Puxei minha avó materna. E aí? Será que nossa luta é apenas por etimologias mais apropriadas? Dói ser considerado negro? Negro é só o preto africano e seus filhos? Por que o americano não pensa assim?
Por favor, gostaria de uma resposta.
Onde estão os protestos? Por que a mídia repercute tão pouco isso? Se fosse feito um comentário desses contra negros…