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Comunidade do Orkut é irônica e preconceituosa contra caboclos

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É o que afirmam Acra e ONG Nação Mestiça, protestando contra críticas feitas a supostos hábitos atribuídos a caboclos. Entidades querem recorrer à Justiça para retirar a comunidade do ar e para que as responsabilidades sejam apuradas

Júlio Pedrosa

Da equipe de A Crítica

A Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia (Acra) e a ONG Nação Mestiça estão denunciando a existência da comunidade “Odeio Caboquice”, no Orkut, por estar ironizando – segundo as entidades de forma preconceituosa – supostos hábitos atribuídos aos caboclos. A comunidade, criada no dia 3 de novembro de 2004, reúne as mais diversas opiniões sobre atitudes como usar roupa fora de moda, fazer luzes no cabelo, andar com celular na cintura, tachando-as de “caboquice”. O uso pejorativo do termo é o que está sendo considerado nocivo pela associação. Até o início da noite de ontem, a comunidade possuía 4.524 integrantes. Na descrição do Orkut, a criadora afirma que a comunidade tem como propósito divertir a todos, mas sem ofensas.

As duas entidades pretendem entrar com representações judiciais com a finalidade de retirar a comunidade do ar e para que as responsabilidades sejam apuradas. Entre os tópicos colocados à disposição dos membros, estão “Qual a caboquice mais ridícula?”, com 45 postagens, e “Escutar música no celular dentro do ônibus”, com cinco postagens apenas. O médico Leão Alves, 42, afirma que uma exposição como essa coloca a perder todo um trabalho de valorização da identidade mestiça e do caboclo que é feito pelas entidades. “Fazemos um trabalho de valorização da identidade mestiça e do caboclo porque é muito comum as pessoas não quererem se assumir como ‘cabocas’ e não se valorizarem como tal. Esse tipo de comunidade na Internet só reforça o constrangimento das pessoas”, afirma. Apesar do grande número de membros, a comunidade não tem a participação ativa dos integrantes comentando ou expressando opiniões a respeito do que qualificam como “caboquice”. Leão afirma que os coordenadores da Acra – atualmente são cinco – estão trabalhando na elaboração do documento que será encaminhado ao Ministério Público Estadual, relatando a situação. “Acreditamos que o próprio Ministério Publico Estadual, por se tratar de uma questão de domínio público, já tenha tomado conhecimento e esteja tomando providências”, explicou. Leão explica que o uso das expressões “caboclo” e “caboco” está correto, daí a preocupação com o título da comunidade “Odeio Caboquice”. “Essa denominação remonta imediatamente ao caboco e é contra isso que estamos nos voltando”, afirmou o médico.

O uso do termo, no sentido pejorativo, é uma forma de ridicularizar o mestiço, que é fruto da mistura do branco, negro e índio. “É a mesma situação da expressão ‘leseira baré’, que associa a leseira, que é um termo português, com o lado indígena do baré. Outro caso é a expressão tecnologia tupiniquim, utilizada quase sempre para desmerecer algo ou alguma coisa e que também se refere ao indígena”, destaca. Leão afirma que o uso pejorativo de termos como esses são um desrespeito às pessoas que se assumem como caboclas ou indígenas. 

‘Temos uma comunidade no Orkut, a Nação Mestiça que trabalha exatamente com a intenção de valorizar a mestiçagem. Por acaso, descobrimos a comunidade Odeio Caboquice, há aproximadamente seis meses. Denunciamos a situação junto ao próprio Orkut para que retirassem a comunidade, mas não foi retirada. Decidimos agora entrar com um documento junto ao Ministério Publico Estadual e nos colocarmos de público contra a situação. Recentemente, a Acra esteve no Supremo Tribunal Federal para discutir a questão das cotas raciais e o estatuto da igualdade racial que tenta impor a identidade negra aos pardos”.

Caboclitude

A Lei 3.140, de 28 de junho de 2007, institui, no Amazonas, o Dia do Caboclo, a ser comemorado anualmente no dia 24 de junho, com a finalidade de defender a identidade e repudiar o preconceito e a discriminação contra a sua cultura. A lei institui também, entre os temas transversais da rede pública estadual de ensino, a caboclitude. E elege como patrono cívico dos caboclos Álvaro Botelho Maia, estudioso da identidade cabocla. 

Comemoração municipal e estadual

A maior conquista obtida até hoje pela Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia foi a instituição das datas municipal e estadual em comemoração ao Dia do Caboclo, 24 de junho. A data foi instituída em 2006 e desde então tem servido de referência para a realização de atividades que tragam a tona a problemática do mestiço.

Este ano, a Acra e a Nação Mestiça realizaram uma sessão solene na Assembléia Legislativa do Estado para marcar a data. As entidades realizaram, também, durante dois dias, a 4° Feira Manauara da Cultura Caboca, no Conjunto Canaranas, na Cidade Nova, entre os dias 26 e 27.

“A criação da comunidade Odeio Caboquice, no Orkut, acaba estimulando a pessoa a não assumir a sua condição pelo simples uso do termo caboquice de forma pejorativa. Quem acessar a comunidade vai acreditar que é caboquice ficar de madrugada batendo papo num posto de gasolina, ou pintar o cabelo de amarelo. O Governo Federal, por sua vez, tem varias políticas de eliminação da identidade do caboco e do mestiço, a exemplo das leis de cotas que beneficiam o negro e o indio”, destaca.

Reportagem na íntegra em A CríticaManaus (AM), 14/07/2010, p. C5.

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2 Responses

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  1. Simone says

    Certo tipos de não sei lá o que, não se pode chamar pessoa preconceituosa de gente e nem de bicho. O pior de tudo é que o covarde não mostra a cara. Depende de quem seja o lixo que inventou uma cumunidade doente dessa dessa, devia ser homem ou mulher suficiente para bancar o que faz e mostrar a cara. Abaixo o preconceito que o mesmo sangue que corre nas veias dos brancos é o mesmo dos negros, mestiços, não somos raça pura, todos temos um pouco de cada raça no DNA.
    Grata

  2. Leão says

    Procuramos a comunidade para ver se ela ainda se encontrava no Orkut e não a encontramos mais. Ótimo. Não sabemos se a própria responsável a deletou, se o MP agiu ou se o Orkut tomou a iniciativa, mas é bem pouco provável que não seja resultado da publicação da denúncia feita pelo jornal. Parabéns a ele e ao repórter.



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